Caminhos da Reportagem | Um gole de cerrado
Com árvores de raízes profundas, que absorvem a água da chuva e a deposita em reservas subterrâneas, os aquíferos, o cerrado brasileiro é considerado o berço das águas, onde elas nascem. O bioma, presente em 15 estados brasileiros, não conta com rios caudalosos, mas alimenta, com suas nascentes, oito das 12 grandes bacias hidrográficas do Brasil. “O fato de ser berço não significa que tem muita. Porque quem ocupa o berço ainda é pequenininho”, compara o pesquisador da Embrapa Cerrado, Jorge Werneck.
É no cerrado que nascem as águas que alimentam, por exemplo, as bacias dos rios Tocantins, Parnaíba e São Francisco. No entanto, esse berço está ameaçado pela ocupação desordenada do solo e desmatamento do bioma, seja para a construção de cidades e ferrovias, por exemplo, seja por atividades econômicas, tais como a agropecuária. Estima-se que pelo menos 50% da vegetação nativa foi destruída desde os anos 1970. Como consequência principal desse desmatamento, o desaparecimento de nascentes e rios.
Na cidade de Correntina, no oeste da Bahia, é possível ver de perto como a ação não-sustentável do homem destrói o cerrado e afeta a vida das pessoas. “Assim que bateu o trator na região e subtraiu a vegetação, o processo de alteração foi numa relação de causa e efeito exato. Aquele riacho eu banhei em 95 nele. Ele deveria ter uns 3 metros cúbicos de água. Lá não tem água pra lagartixa banhar. Então, uma geração viu tudo isso acabar. É impossível isso, do ponto de vista geológico, isso não existe”, afirma o professor da rede municipal de Correntina, Iremar de Araújo. Na cidade baiana ainda há outro agravante: a existência de “piscinões” que retiram a água dos rios e nascentes, para a irrigação das grandes plantações de monocultura, como a soja.
Dos rincões para os grandes centros, a crise hídrica já chegou na capital do Brasil. Em todas as regiões do Distrito Federal, construído em uma área de muitas nascentes, há corte do fornecimento de água, pelo menos uma vez por semana, desde o começo de 2017. Na época da construção de Brasília, os projetos urbanísticos não levaram a questão ambiental em consideração. “A biblioteca da Universidade de Brasília foi construída bem na frente de uma nascente. Se fosse hoje, certamente ou o prédio não seria ali ou você teria que incorporar aquela nascente à paisagem, faria um pequeno lago, algo assim, porque a concepção do urbanismo foi modificando nesse tempo. E a legislação também foi sendo modificada”, exemplifica o geólogo da UnB, José Elói Guimarães.
Diante desse cenário, o Caminhos da Reportagem foi conhecer também projetos de preservação e reflorestamento do cerrado. Uma tarefa nada fácil, como afirma o antropólogo e estudioso do bioma Altair Barbosa: “o cerrado tem 65 milhões de anos. De todos os ambientes da história recente do planeta, o cerrado é o mais antigo. Ele já atingiu seu clímax evolutivo. O que significa que, uma vez degradado, ele não se recupera nunca mais na plenitude da sua biodiversidade”. E essa dificuldade foi atestada na Emater de Goiás. “O cerrado é um bioma dentro de vários biomas. Por exemplo: buriti. Ele nasce nas veredas alagadas. A mangaba: nos altos de serra e no terreno arenoso. Então, o pacote tecnológico que você faz pra mangaba, não serve para o buriti. O que você faz pro buriti, não serve pra mangaba”, explica a engenheira agrônoma Elainy Pereira, que criou um bosque com espécies do cerrado em Goiânia.
Reportagem: Flavia Peixoto
Imagens: Rogerio Verçoza
Auxílio técnico: Dailton Matos
Produção: Beatriz Abreu
Edição de texto: Francislene de Paula
Edição de imagem e finalização: André Eustáquio
Arte: Julia Costa
http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/um-gole-de-cerrado
Видео Caminhos da Reportagem | Um gole de cerrado канала tvbrasil
É no cerrado que nascem as águas que alimentam, por exemplo, as bacias dos rios Tocantins, Parnaíba e São Francisco. No entanto, esse berço está ameaçado pela ocupação desordenada do solo e desmatamento do bioma, seja para a construção de cidades e ferrovias, por exemplo, seja por atividades econômicas, tais como a agropecuária. Estima-se que pelo menos 50% da vegetação nativa foi destruída desde os anos 1970. Como consequência principal desse desmatamento, o desaparecimento de nascentes e rios.
Na cidade de Correntina, no oeste da Bahia, é possível ver de perto como a ação não-sustentável do homem destrói o cerrado e afeta a vida das pessoas. “Assim que bateu o trator na região e subtraiu a vegetação, o processo de alteração foi numa relação de causa e efeito exato. Aquele riacho eu banhei em 95 nele. Ele deveria ter uns 3 metros cúbicos de água. Lá não tem água pra lagartixa banhar. Então, uma geração viu tudo isso acabar. É impossível isso, do ponto de vista geológico, isso não existe”, afirma o professor da rede municipal de Correntina, Iremar de Araújo. Na cidade baiana ainda há outro agravante: a existência de “piscinões” que retiram a água dos rios e nascentes, para a irrigação das grandes plantações de monocultura, como a soja.
Dos rincões para os grandes centros, a crise hídrica já chegou na capital do Brasil. Em todas as regiões do Distrito Federal, construído em uma área de muitas nascentes, há corte do fornecimento de água, pelo menos uma vez por semana, desde o começo de 2017. Na época da construção de Brasília, os projetos urbanísticos não levaram a questão ambiental em consideração. “A biblioteca da Universidade de Brasília foi construída bem na frente de uma nascente. Se fosse hoje, certamente ou o prédio não seria ali ou você teria que incorporar aquela nascente à paisagem, faria um pequeno lago, algo assim, porque a concepção do urbanismo foi modificando nesse tempo. E a legislação também foi sendo modificada”, exemplifica o geólogo da UnB, José Elói Guimarães.
Diante desse cenário, o Caminhos da Reportagem foi conhecer também projetos de preservação e reflorestamento do cerrado. Uma tarefa nada fácil, como afirma o antropólogo e estudioso do bioma Altair Barbosa: “o cerrado tem 65 milhões de anos. De todos os ambientes da história recente do planeta, o cerrado é o mais antigo. Ele já atingiu seu clímax evolutivo. O que significa que, uma vez degradado, ele não se recupera nunca mais na plenitude da sua biodiversidade”. E essa dificuldade foi atestada na Emater de Goiás. “O cerrado é um bioma dentro de vários biomas. Por exemplo: buriti. Ele nasce nas veredas alagadas. A mangaba: nos altos de serra e no terreno arenoso. Então, o pacote tecnológico que você faz pra mangaba, não serve para o buriti. O que você faz pro buriti, não serve pra mangaba”, explica a engenheira agrônoma Elainy Pereira, que criou um bosque com espécies do cerrado em Goiânia.
Reportagem: Flavia Peixoto
Imagens: Rogerio Verçoza
Auxílio técnico: Dailton Matos
Produção: Beatriz Abreu
Edição de texto: Francislene de Paula
Edição de imagem e finalização: André Eustáquio
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