Vida real e saúde mental: minha experiência com a Depressão e Ansiedade - Fora do Padron #41

Eu tenho depressão.

Eu me dei conta disso neste ano porque eu negava admitir isso para mim mesma. Mesmo quando comecei a me dar conta, eu não conseguia falar essa frase. Nem para mim, nem para os que me cercam.

Ainda é muito difícil. Mas aos poucos fui percebendo que falar sobre tem menos a ver com abrir a ferida do que com o processo de cicatrização. Falar sobre é minha forma de enfrentamento. É mostrar a ela que ela não me vence e que ser depressiva é apenas uma das coisas que sou.

Sou mulher, esposa, trabalhadora, comunicóloga, cinéfila. E também depressiva.

E não é apenas minha impressão que falar sobre é forma de enfrentar. “Falar é a melhor solução” é o mote do Setembro Amarelo deste ano, campanha que tem a prevenção do suicídio como objetivo.

São quase 800 mil suicídios por ano no mundo, e a estimativa da OMS é que 9 em cada 10 poderiam ser prevenidos. No Brasil são quase 12 mil suicídios por ano, o que significa que a gente perde 32 pessoas por dia. Talvez muitas delas poderiam estar vivas, se o assunto não fosse tamanho tabu.

A importância de falar sobre vai muito além de prevenir suicídios. É também mostrar para as pessoas que elas não precisam ter vergonha de quem elas são ou do que elas sentem. Que assim como às vezes elas faltam trabalho e tomam remédios para tratar uma gastrite, está tudo bem em elas fazerem o mesmo para tratar de sua saúde mental. Mas elas não fazem. A OMS também aponta que menos da metade das pessoas que sofrem de depressão no mundo procuram algum tipo de tratamento.

O Brasil é recordista em casos de depressão na América Latina e 3º maior do mundo, com 11,5 milhões de pessoas passando por isso, ou 5,8% da população. Em ansiedade, somos recordistas mundiais, com 9,3% da população.

Isso significa que uma a cada 20 pessoas que você conhece tem depressão. Um em cada 10 tem ansiedade. Quantas delas você acha que tem coragem de admitir isso pra alguém? Quantas elas guardam segredo por medo de serem demitidas ou perderem seus cônjuges?

Eu fiz esse vídeo porque eu precisava declarar que eu sou mais do que estatística. Eu sou alguém em luta, que quer que mais pessoas saibam que elas não estão lutando sozinha. Nele eu falo sobre meu processo de descoberta, quais eu acredito serem as causas subjetivas por trás disso e o que aprendi até então.

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