Falar de forma vulgar e grosseira: Incompetência emocional ou sinal de algum transtorno?

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Marisa de Abreu
Psicóloga CRP 06/29493

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Falar de forma vulgar e grosseira: Incompetência emocional ou sinal de algum transtorno?

O vulgar e grosseiro na fala costuma ser identificado pelos palavrões, ou colocações de cunho sexual fora de contexto.
A menos que a pessoa sofra de alguma síndrome, como por exemplo o Tourette onde palavrões são disparados de forma involuntária diante de algum desconforto, palavrões são uma forma cultural e aprendida de se expressar.
Vejo que o que caracteriza uma palavra como “palavrão” seria a intenção de se expressar de forma mais contundente usando palavras consideradas mais fortes e menos usuais nas situações amenas. Por exemplo, uma vez vi uma criança, com raiva, parar por um instante, dar um impulso e soltar com uma postura bem desafiadora a palavra “bobo”. Para seu universo esta seria uma palavra forte que expressaria seu desagrado.
Palavras que já foram consideradas palavrões, em outra época, conforme o uso constante passam a ser consideradas apenas uma expressão normal. A cultura e costume determina muito o que seria palavrão.
As pessoas usam palavrão com diversas intenções: ser engraçado, chamar atenção ao que está querendo mostrar, expressar raiva, indignação, constranger, diminuir o outro, etc., mas me parece que a necessidade de impactar permeia todas elas.
E também existem os que usam palavrões apenas para passar uma mensagem quanto aos seu sentimento, sem tanta carga emocional, como figura de linguagem. Seria uma forma de se fazer entender, talvez considerem que dizer que “tem uma pedra dentro do peito” por exemplo, ainda não expressaria tão bem quanto como se colocasse um palavrão.
A intenção de impactar normalmente funciona. Uma pessoa que percebe que para ser notada, ser ouvida, pode ter percebido que isso acontecia toda vez que usava um palavrão. E assim passou a usar de forma costumeira de modo a pertencer a sua identidade.
É possível que o uso do palavrão inviabilize a participação em algumas situações devido a aversão causada, ou torne a sua “marca pessoal” como por exemplo aconteceu com Dercy Gonçalves que se tornou quase folclórica devido à sua forma de se expressar.
Acredito que muitas pessoas, em algumas situações, tem os palavrões contidos, elas pensam, mas para adequação social os inibe. Mas o simples fato de os terem em sua mente já oferece um certo alivio na necessidade de se expressar.
Algumas pessoas podem usar o palavrão como forma de se impor, se fazer aceito em suas indignações, o que algumas vezes pode causar efeito contrário, as pessoas podem se afastar e parar de dar ouvidos ao tema, que pode ser muito justo e pertinente, quando um palavrão é inserido justamente pela aversão aquela colocação.
O uso do palavrão é uma forma de comunicação, que pode funcionar ou não. Cabe a cada um avaliar o efeito como também avaliar a possibilidade de se expressar da forma que for mais funcional. Não adequar o comportamento ao objetivo pode indicar dificuldade em se adaptar socialmente.

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