O véu de Maia e o infinito – Giacomo Leopardi e Hermann Hesse [Sidarta - Parte 2]
Desde a última vez que o vimos adentrando a floresta, ao fim do vídeo "Ausência", passaram-se três anos para ele. Para nós, pouco mais de um ano e quatro meses, porque foi esse o tempo que levei para conseguir alcançá-lo e depois voltar sabendo um pouco o que contar. Não teria sido possível resenhar Sidarta em único vídeo, não neste formato de ensaio narrativo. A princípio, a ideia foi dividi-lo em três partes; 'Ausência', 'O véu de Maia' e 'O tempo'. Durante a escrita do segundo vídeo, decidi que 'O tempo' ficaria melhor inserido em 'O véu de Maia', portanto esta é a parte final da minha exploração da obra de Hermann Hesse. Ao fim do vídeo, o poema L’infinito, do italiano Giacomo Leopardi (na tradução de Haroldo de Campos e na voz de Tânia Maria Ramos Fernandes), dá ao tom da impermanência a convicção de um único Agora em que todos nós naufragamos - quem sabe um naufrágio doce, se soubermos sonhar como Leopardi e contemplar como Sidarta.
#sidarta #SiddharthaGautama #HermannHesse
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Três anos se passaram desde que Sidarta entrou na floresta. Ele foi acompanhado de um amigo de infância chamado Govinda. Os dois buscavam a iluminação, o esvaziamento do ego e o verdadeiro entendimento sobre o Átman, a alma individual e universal. Durante a peregrinação, encontraram dois caminhos possíveis; o primeiro os colocou na companhia de peregrinos samanas (Śramaṇa = buscador), foi o caminho da mortificação dos sentidos, a aniquilação dos desejos por meio de uma rigorosa resistência de jejuns prolongados e outros impedimentos de se saciar corpo e mente. A ideia seria retirar do espírito toda representação do que é tido como necessário e bom para o corpo. A crença era de que somente assim poderiam ficar livres das percepções mundanas da Maia (a ilusão, em sânscrito), e mais próximos da compreensão total da vida.
Ao longo dos três anos de sacrifícios, Sidarta se dá conta de que a mortificação dos sentidos está, na verdade, produzindo um efeito contrário, está levando a uma fuga por meio de dores e rituais que ocupam no cotidiano o mesmo lugar dos vícios que a sociedade alimenta com o cultivo de desejos insaciáveis.
Sidarta entende que, em vez de aniquilar, a mortificação conserva o seu eu e transforma as privações e as dores em novos desejos.
Como seria possível render-se e encontrar a suspensão do eu, sem primeiro compreendê-lo, sem ter conhecido a si mesmo?
-
Ao fim, o poema de Giacomo Leopardi, lido na voz de Tânia Maria Ramos Fernandes, segue assim na tradução de Haroldo de Campos:
"O infinito"
A mim sempre foi cara esta colina
deserta e a sebe que de tantos lados
exclui o olhar do último horizonte.
Mas sentado e mirando, intermináveis
espaços longe dela e sobre-humanos
silêncios, e quietude a mais profunda,
eu no pensar me finjo; onde por pouco
não se apavora o coração. E o vento
ouço nas plantas como rufla, e aquele
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recordo o eterno,
e as mortas estações, e esta presente
e viva, e o seu rumor. É assim que nesta
imensidade afogo o pensamento:
e o meu naufrágio é doce neste mar.
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• Compre 'O deserto dos meus olhos' aqui: www.leonidris.com
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Видео O véu de Maia e o infinito – Giacomo Leopardi e Hermann Hesse [Sidarta - Parte 2] канала Leon Idris Azevedo
#sidarta #SiddharthaGautama #HermannHesse
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Três anos se passaram desde que Sidarta entrou na floresta. Ele foi acompanhado de um amigo de infância chamado Govinda. Os dois buscavam a iluminação, o esvaziamento do ego e o verdadeiro entendimento sobre o Átman, a alma individual e universal. Durante a peregrinação, encontraram dois caminhos possíveis; o primeiro os colocou na companhia de peregrinos samanas (Śramaṇa = buscador), foi o caminho da mortificação dos sentidos, a aniquilação dos desejos por meio de uma rigorosa resistência de jejuns prolongados e outros impedimentos de se saciar corpo e mente. A ideia seria retirar do espírito toda representação do que é tido como necessário e bom para o corpo. A crença era de que somente assim poderiam ficar livres das percepções mundanas da Maia (a ilusão, em sânscrito), e mais próximos da compreensão total da vida.
Ao longo dos três anos de sacrifícios, Sidarta se dá conta de que a mortificação dos sentidos está, na verdade, produzindo um efeito contrário, está levando a uma fuga por meio de dores e rituais que ocupam no cotidiano o mesmo lugar dos vícios que a sociedade alimenta com o cultivo de desejos insaciáveis.
Sidarta entende que, em vez de aniquilar, a mortificação conserva o seu eu e transforma as privações e as dores em novos desejos.
Como seria possível render-se e encontrar a suspensão do eu, sem primeiro compreendê-lo, sem ter conhecido a si mesmo?
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Ao fim, o poema de Giacomo Leopardi, lido na voz de Tânia Maria Ramos Fernandes, segue assim na tradução de Haroldo de Campos:
"O infinito"
A mim sempre foi cara esta colina
deserta e a sebe que de tantos lados
exclui o olhar do último horizonte.
Mas sentado e mirando, intermináveis
espaços longe dela e sobre-humanos
silêncios, e quietude a mais profunda,
eu no pensar me finjo; onde por pouco
não se apavora o coração. E o vento
ouço nas plantas como rufla, e aquele
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recordo o eterno,
e as mortas estações, e esta presente
e viva, e o seu rumor. É assim que nesta
imensidade afogo o pensamento:
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