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50 ANOS VIVENDO NUMA TOCA

Você já comeu urtiga? Então veja como reconhecer e preparar.
https://www.youtube.com/watch?v=dLHW9DkdW4I

Conheça o trabalho do Renato Barros em São Bento do Sapucaí SP
https://www.youtube.com/watch?v=sE5D3cz3i5k

Trilha sonora por Thyagi Ryan
https://www.youtube.com/channel/UCXSltTsh2hJo1A7itZxRKtg

Abaixo o texto sobre o Juca, escrito pelo jornalista Galeno Amorim para o Jornal da Tarde em 1989

Barba por fazer, um surrado chapéu na cabeça e algumas roupas velhas para espantar o frio, Juca da Toca ainda vive na Idade da Pedra. Não sabe que o dinheiro é o cruzado, muito menos o nome do atual presidente da República – e, para ele, a capital do Brasil continua sendo o Rio de Janeiro. Em plena era da informática e fim de um século marcado pelos avanços tecnológicos e o progresso, o velho Juca, 83 anos, é, certamente, um dos últimos genuínos homens da caverna.
Desgostoso com a vida e com medo da cidade, ele vive há quase 40 anos numa caverna das montanhas de São Bento Sapucaí, na fronteira de São Paulo com o Sul de Minas. Entre os 9 mil moradores da cidade, próxima a Campos do Jordão, há quem diga que Juca da Toca não passa de uma lenda. Mas, ele está ali, solitário e estranho, vivendo a 2 mil metros de altura, debaixo de uma pedra onde dorme, cozinha e divaga sobre a vida.
- Acordu só cru crarão du dia. Enquanto o sór num quenta, num saio mému... Tenhu medo do frio. Durmu nu escurecê...
Juca da Toca já foi bem mais arredio e incomodava-se com a presença de estranhos. Agora, mudou. Velho e cansado, passou alguns meses no hospital e no asilo de idosos na cidade, mas só até curar-se de um ferimento na perna.
Logo que sarou, fugiu de volta às montanhas, a dez quilômetros do centro, em um lugar de difícil acesso, onde só é possível chegar de carro em dias de sol. O resto do caminho – uns 300 metros – tem que ser feito a pé, através de picadas na serra e alguma habilidade.
Juca sobrevive com uma aposentadoria de “dez contu”, arrumada no Funrural por uns sitiantes da região. Por causa da idade, dificilmente aparece em São Bento, onde se sentia “bastante atazanadu” com as gozações e ofensas de certas pessoas.
Ninguém sabe ao certo suas origens e os motivos que levaram o misterioso homem das cavernas a fugir da civilização. O próprio ermitão não gosta muito de falar nisso. Às vezes, deixa escapar uma pista.
José Joaquim Ferreira nasceu em Barra do Paraíso, interior mineiro. Desentendia-se frequentemente com a madrasta e os 26 irmãos, resultado dos três casamentos do pai.
- Eis me mandava cumê e durmi ni minha casa, mas era ali minha casa – recorda, magoado.
Juca abandonou a família aos 21 anos e nunca mais teve notícias dos parentes. Sua longa peregrinação culminou na atual moradia – que, apesar de minúscula e estranha, sem porta ou janela, não admite que a chamem de toca.
- É a minha casa - insiste.
Pão, pepino e laranja constituem sua única refeição diária. O ermitão aprecia também um pouco de arroz e feijão, que ele próprio faz no improvisado fogão no interior da pedra. A comida é repartida com os dois cachorros de estimação mais os cães que, invariavelmente, aparecem por lá para matar a fome.
- A genti num pódi ridicá, nada é de ninguém... – ensina, reticente, nosso homem da caverna.
No topo da serra - de onde é possível apreciar, à noite, “as luizinha di muita cidade” -, Juca da Toca não faz absolutamente nada. Quando não sente preguiça, ele cultiva uma pequena plantação de pepino – outras vezes “campeia” para achar algumas frutas.
- Tô fracu e careçu di cuidadu. Nem caçá num caço mai... – balbucia ele.
Nem por isso, entretanto, admite morar na cidade:
- Achava que um quarqué ia entrá e mi matá...
E ainda por cima tinha a horror a tantos banhos:
- E, dispois, eis mi dava banhu tudi dia, cruz credu... – lembra, referindo-se ao asilo, e solta uma rara e gostosa gargalhada.
Quando era mais moço, Juca fez de tudo na vida. Foi desde lenhador até apartador de bezerro. De alguns anos para cá, porém, queixa-se de que não lhe dão mais emprego.
- É um pecadu – filosofa, ao confessar-se católico – pensar em Deus tuda horinha, mas não se arrepender de nada na vida.
Nem mesmo de nunca ter se casado ele se arrepende:
- Ah, bem que queria... Mai foi bruta duma sorte a moça grã-fina dus diabu num querê... Casa, casa até dez veiz... Mai cumé tratá?
O próprio Juca da Toca tenta se conformar da vida solitária:
- A moçaiada daqui dos arredói tamém ficaru sorteirona...
Sem nunca ter tido qualquer preocupação com dinheiro ou documentos, Juca da Toca está, agora, diante de um dilema legal. Os poucos amigos que aparecem por lá para levar algum mantimento - ou “tê um dedo di prosa” - estão enfiando na sua cabeça que ele pode ser beneficiado pela lei do usucapião e tornar-se proprietário legal da caverna e de seu terreiro onde vive.
- Sei disso, não... Aqui a vista é bunita e num percisa não – responde, rápido, ainda assustado com a novidade do gravador diante de si.
- Pensei qui isso era aquela coisa di oiá longi e descansá os zóio...

Видео 50 ANOS VIVENDO NUMA TOCA канала Chico Abelha
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Информация о видео
13 сентября 2020 г. 3:33:01
00:29:43
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