Sobrevivência da nossa sociedade depende da coragem de amar | Vera Iaconelli
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*Entrevista gravada em 06 de maio de 2021.
Aglomeração de pessoas, negacionismo e comportamentos desrespeitosos com o luto alheio, ostentados até mesmo por autoridades, integram o dia a dia de um país que já perdeu mais de 420 mil vidas para o covid-19. A que se deve a banalização de uma tragédia sem precedentes? De acordo com a psicanalista e diretora do Instituto Gerar, Vera Iaconelli, a resposta reside no medo de amar.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Vera diz que a negação do luto, evidenciada durante a pandemia em comportamentos que desprezam o cuidado com a vida e com a dor do próximo, está ligada ao receio de criar laços profundos.
“Temos tido cada vez menos coragem de amar, porque amar é um ato de coragem. Quando você ama, você investe em alguém e, de alguma forma, deposita ali os seus laços afetivos. E aquele sujeito, se te faltar, vai te trazer sofrimento. Então, quando você ama, você faz uma aposta no outro que não pode te faltar”, elucida a psicanalista. “Amar é depositar alguma coisa a fundo perdido. Você não tem garantia nenhuma”, complementa.
Vera salienta que “o luto é um mecanismo básico do psiquismo humano”, mas a cultura social impele as pessoas a diminuir e entorpecer as perdas. O resultado disso é não conseguir “nem amar, nem fazer o luto num momento em que a morte real se apresenta”.
“Faltando coragem de amar, de fazer laços mais profundos e mais íntimos, significa, também, a impossibilidade de bancar o luto. De certa forma, temos investido cada vez menos nas relações amorosas por medo de sofrer a perda e de ter de dar conta de um luto, que faz parte da existência”, observa a psicanalista.
Ela também comenta que, apesar da pandemia, ainda impera “a tirania da felicidade”, que obriga as pessoas a se mostrarem alegres independentemente do que esteja ocorrendo, prejudicando sobremaneira a saúde mental. “Não tem ninguém no Brasil que possa estar animado. Você pode estar feliz no âmbito privado com as suas realizações, mas, animado? Não tem como não estar sentindo um sofrimento de fundo”, pondera.
Além disso, a psicanalista observa que “a violência doméstica está explodindo porque as pessoas não sabem mais conversar”. Nesse sentido, indica que pais e mães, em especial, precisam reconhecer que “não existe vida sem sofrimento” e “desinflacionar o papel deles com os filhos”.
“O que faz um bom pai e uma boa mãe? Não tira o sofrimento da criança, não temos esta capacidade. Na hora que você deu a vida para o sujeito, o sofrimento já começou. Prerrogativa de pai e mãe é fazer a interface entre a criança e o mundo, administrar aquilo que a criança vai ter acesso”, pontua Vera.
Foto Thumb: Renato Parada
As opiniões expressas neste vídeo não refletem, necessariamente, a posição do Canal UM BRASIL.
#VeraIaconelli #Amor #CanalUMBRASIL
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*Entrevista gravada em 06 de maio de 2021.
Aglomeração de pessoas, negacionismo e comportamentos desrespeitosos com o luto alheio, ostentados até mesmo por autoridades, integram o dia a dia de um país que já perdeu mais de 420 mil vidas para o covid-19. A que se deve a banalização de uma tragédia sem precedentes? De acordo com a psicanalista e diretora do Instituto Gerar, Vera Iaconelli, a resposta reside no medo de amar.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Vera diz que a negação do luto, evidenciada durante a pandemia em comportamentos que desprezam o cuidado com a vida e com a dor do próximo, está ligada ao receio de criar laços profundos.
“Temos tido cada vez menos coragem de amar, porque amar é um ato de coragem. Quando você ama, você investe em alguém e, de alguma forma, deposita ali os seus laços afetivos. E aquele sujeito, se te faltar, vai te trazer sofrimento. Então, quando você ama, você faz uma aposta no outro que não pode te faltar”, elucida a psicanalista. “Amar é depositar alguma coisa a fundo perdido. Você não tem garantia nenhuma”, complementa.
Vera salienta que “o luto é um mecanismo básico do psiquismo humano”, mas a cultura social impele as pessoas a diminuir e entorpecer as perdas. O resultado disso é não conseguir “nem amar, nem fazer o luto num momento em que a morte real se apresenta”.
“Faltando coragem de amar, de fazer laços mais profundos e mais íntimos, significa, também, a impossibilidade de bancar o luto. De certa forma, temos investido cada vez menos nas relações amorosas por medo de sofrer a perda e de ter de dar conta de um luto, que faz parte da existência”, observa a psicanalista.
Ela também comenta que, apesar da pandemia, ainda impera “a tirania da felicidade”, que obriga as pessoas a se mostrarem alegres independentemente do que esteja ocorrendo, prejudicando sobremaneira a saúde mental. “Não tem ninguém no Brasil que possa estar animado. Você pode estar feliz no âmbito privado com as suas realizações, mas, animado? Não tem como não estar sentindo um sofrimento de fundo”, pondera.
Além disso, a psicanalista observa que “a violência doméstica está explodindo porque as pessoas não sabem mais conversar”. Nesse sentido, indica que pais e mães, em especial, precisam reconhecer que “não existe vida sem sofrimento” e “desinflacionar o papel deles com os filhos”.
“O que faz um bom pai e uma boa mãe? Não tira o sofrimento da criança, não temos esta capacidade. Na hora que você deu a vida para o sujeito, o sofrimento já começou. Prerrogativa de pai e mãe é fazer a interface entre a criança e o mundo, administrar aquilo que a criança vai ter acesso”, pontua Vera.
Foto Thumb: Renato Parada
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